Rádio Mitre: Meus Ouvidos na Argentina de Milei

Desde antes da eleição de Javier Milei, passei a ouvir quase diariamente a Rádio Mitre de Buenos Aires via streaming. Praticamente não falhei um dia sequer nesse primeiro ano de governo. Costumo escutar tanto nas idas quanto nas voltas de Natal. A vitória de Milei foi um verdadeiro roteiro de cinema: uma candidatura que parecia improvável na primeira etapa das eleições, e uma vitória totalmente fora do script. Tudo ocorreu de forma inesperada aos olhos do mundo. Foi aí que tive aquela sensação de que os grandes analistas estavam cegos, e nós, mesmo pequenos, parecíamos entender um pouco melhor esse mundo "quântico", onde a física clássica não se aplica e as coisas funcionam de forma estranha. Enquanto o mundo estranhava, eu e alguns poucos atentos já vislumbrávamos com certa precisão o caminho que a Argentina escolheria.

Após eleito, Milei começou imediatamente a aplicar os ensinamentos da Escola Austríaca de Economia. E o filme do estranhamento se repetiu. O mundo, acostumado com economistas keynesianos, via suas decisões como erros, simplesmente porque ele não optava por errar pragmaticamente junto com os medíocres presidentes e ministros da economia que fizeram países patinar por décadas, com poucos avanços sociais ou mesmo retrocessos, como a própria Argentina acabara de viver. Venezuela, Brasil e outros da linha com seus planos mirabolantes de congelamento, confisco e outras tolices pouco científicas.

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Como alguém com base matemática e muita fome de entender a economia real e não aquela ensinada em faculdades, eu devorava todo conteúdo sobre histórias de sucesso econômico. Admirava os filósofos que conseguiam enxergar o funcionamento das economias e sociedades com clareza. Para mim, os efeitos das medidas de Milei eram evidentes e calculáveis. O sucesso viria no médio prazo, desde que outras forças não anulassem suas decisões. Felizmente, a Argentina ainda tem um presidencialismo forte o suficiente para resistir a isso.

Ouvindo a Rádio Mitre todos os dias, fui me acostumando com a forma intensa, por vezes até com palavrões, como a imprensa argentina se expressa. Escutei discussões toscas no Congresso e no Senado, mergulhei na vida portenha através do rádio. À noite, acompanhava um programa de casos policiais clássicos, com aquele charme investigativo que dá um clima todo especial. Sim, a Rádio Mitre tem boa parte de seus analistas favoráveis a Milei. Mas isso não soava como partidarismo. Era uma constatação: os analistas, por serem bons, reconheciam que as medidas tinham lógica e potencial de sucesso, e que os resultados não demorariam a aparecer.

Milei poderia ter avançado ainda mais se fosse menos combativo. Ouvi na Mitre relatos de brigas motivadas por razões tolas, até com aliados. O partido de Macri, o PRO, levou muitas pancadas de Milei, mas ainda assim votava a favor de suas propostas, por entender que o país teria avanços reais. A mais nova confusão, que venho acompanhando na rádio, envolve as nomeações para a Suprema Corte. Parece que não é só no Brasil que a política é uma novela.

A Rádio Mitre tem outros programas incríveis. À tarde, costumo ouvir o Encendidos en la Tarde, que é excelente para entender o humor argentino. Um programa de variedades com muito bom humor, além de informações relevantes.

Ouvir a Rádio Mitre é mergulhar na alma de Buenos Aires. É uma rádio de debate, notícias, esportes, com o formato clássico AM, mas com enorme audiência por tratar a comunicação com seriedade e qualidade. Seus analistas e humoristas são de altíssimo nível, 100 anos de rádio. Vale muito a pena ouvir a Rádio Mitre!