Público Consumidor do Jornalismo no Rádio Potiguar
- Ricardo Gurgel
- 21 de mar.
- 5 min de leitura
Atualizado: 22 de mar.
Gênero e Renda
A análise dos dados extraídos das ferramentas de Analytics de programas jornalísticos transmitidos por rádios/YT do Rio Grande do Norte mostra que o público é historicamente predominantemente masculino, com mais de 80% da audiência composta por homens. Esse grupo acessa o conteúdo utilizando dispositivos tecnológicos de alta qualidade, como smartphones, tablets e televisores de marcas e configurações avançadas, além de optar por planos de internet que suportam maior consumo de dados para garantir melhor qualidade de imagem no YouTube. Em alguns casos, é possível identificar as regiões de acesso, revelando que a maior parte da audiência está concentrada em bairros de maior poder aquisitivo, o que indica um perfil socioeconômico elevado.
Posicionamento sobre Políticas Econômicas
Esse público acompanha as políticas econômicas com atenção crítica, frequentemente questionando as análises dos comentaristas das emissoras. Essa postura exigente obriga as rádios a apresentarem informações de forma precisa e bem fundamentada, já que os ouvintes não hesitam em apontar abordagens que julgam imprecisas ou tendenciosas.
Julgamento e Audiência
A principal característica dessa audiência, do ponto de vista mercadológico, é o foco em análises realistas dos fatos. Há uma frustração evidente com comentaristas que demonstram paixão política excessiva ou falta de domínio técnico, especialmente em temas complexos como economia e matemática. O público se desconecta quando percebe tentativas de suavizar ou manipular informações, sobretudo quando jornalistas deixam claro, antes mesmo da análise, suas preferências ou ataques políticos conforme a origem da notícia. Trata-se de uma audiência que valoriza análises honestas, ainda que tenha posições políticas definidas, e que se revolta quando números são extorquidos por razões ideológicas – seja para parecerem positivos ou negativos – ou quando o contraponto não consegue defender uma visão correta por falta de conhecimento ou habilidade argumentativa.
Público Que Orbita o Jornalismo
Esse comportamento influencia diretamente o debate sobre os rumos da economia local. Em média, esses ouvintes possuem um entendimento de conceitos econômicos acima da média populacional, com uma parcela significativa demonstrando conhecimento mais aprofundado, especialmente sobre os impactos de políticas populistas ou decisões econômicas com efeitos menos evidentes. Eles conseguem compreender questões complexas, muitas vezes consideradas desinteressantes ou inacessíveis pela população em geral, exibindo uma notável capacidade de análise crítica dos equívocos econômicos e suas consequências.
Um Público Com Lado
Não há neutralidade nessa audiência. Predomina uma inclinação à direita, mas sem paixão cega por essa vertente. Esse público já se indignou com aumentos de impostos promovidos por governos de ambos os espectros políticos, recorrendo, por exemplo, à Curva de Laffer para criticar gestões de direita e esquerda, argumentando que há um limite além do qual aumentar tributos reduz a arrecadação. Embora exista uma tendência a preferir programas com opiniões majoritariamente alinhadas à direita – o que poderia sugerir um viés de confirmação –, esse fator é superado por um interesse maior em análises que vão além de discursos bajuladores, priorizando discussões substanciais.
Perfil x Mercado
Esse é, sem dúvida, um programa acompanhado pelo mercado em todos os seus níveis. Comerciantes, industriais, engenheiros e tantos outros atores com suas experiências práticas, entendem os riscos do "minimalismo político" e seus efeitos do macro ao micro. Rotular esse ouvinte como "pobre de direita" ou "defensor da Faria Lima" é um equívoco. A audiência rejeita mesas de debate que atacam o mercado de forma generalizada, defendem mais impostos, culpam o agronegócio indiscriminadamente ou exibem uma visão estatista rígida, que prioriza servidores em detrimento da população como um todo. Programas com comentaristas que não dominam conceitos básicos de finanças – como a distinção entre bolsa de valores e rentismo – tendem a agradar apenas alguns "centros acadêmicos", mas não esse público.
O equilíbrio fingido
Não há nada mais irritante do que comentaristas que acreditam que suas preferências passam despercebidas, quando é evidente que seus comentários oscilam entre suavizar ou exagerar conforme suas inclinações. É o ápice da hipocrisia quando se apresentam como neutros. Muito mais honesto é assumir uma posição e, ainda assim, ser capaz de criticar os erros até do lado que se admira. Sim, todos já sabemos de que lado cada um está – não há talento que consiga disfarçar isso. O que realmente impressiona é a capacidade de apontar falhas na própria "cor".
Existe um impulso de reação argumentativa ao ouvir absurdos, mas, muitas vezes do seu lugar, você não pode argumentar, mesmo quando alguém na mesa apresenta uma opinião contrária ao absurdo falado. Ouvir bobagens por mais de um minuto pode ser o suficiente para te fazer trocar de estação
O equilíbrio virtual
Dois comentaristas com visões opostas não garantem, por si só, a atenção do público – especialmente se um deles carece de fundamentos em conhecimentos econômicos e baseia suas opiniões apenas em retórica, ignorando a matemática. Mais valioso é ter dois que saibam criticar e elogiar qualquer lado, independentemente de suas preferências.
Referências Nacionais
São referências que utilizo para ilustrar a abordagem apresentada no texto, caracterizada pela busca de um método consistente. Não se trata de citá-las por serem nomes amplamente conhecidos, mas por se destacarem devido à qualidade de suas análises, à neutralidade autêntica – sem fingimentos – e à dedicação efetiva em explicar o funcionamento do maquinário político-econômico. Evidente que não são nomes possíveis localmente, mas a referência buscada é o método que se deve buscar nos analistas de qualquer local, a linha filosófica de ética, domínio técnico e comunicação.
William José Waack
Waack é um jornalista que não hesita em criticar qualquer espectro político, sempre analisando profundamente os efeitos de decisões que muitas vezes passam despercebidas pelo grande público. Ele não se preocupa em agradar nenhum lado, o que lhe confere grande admiração, especialmente entre o público pró-mercado. Seu estilo é pautado pela objetividade, apresentando os fatos e analisando suas repercussões práticas. Waack critica tanto líderes populistas de direita quanto de esquerda, sem "passar pano" para falhas de caráter comuns em qualquer lado, e é implacável com aqueles que trazem prejuízo ao mercado.
Felipe Moura Brasil
Felipe Moura Brasil, conhecido por sua postura crítica, ganhou o apelido de "traidor" entre algumas alas da direita, especialmente por apontar falhas dentro do próprio campo político. Sua postura crítica, no entanto, não é limitada à esquerda, já sendo amplamente reconhecido por suas análises contundentes sobre os erros e equívocos da esquerda, o que o coloca como uma figura imparcial e de grande integridade jornalística.
Eduardo Oinegue
Eduardo Oinegue é outro jornalista que se destaca pela profundidade de suas análises, sendo um admirável tradutor dos complexos movimentos econômicos e políticos no Brasil. Sua habilidade de simplificar e explicar questões complexas torna suas análises acessíveis ao grande público, mantendo sempre um alto nível de rigor técnico.
A Demanda por Análises Profundas em Natal
Aqui também existe uma demanda crescente por análises de profundidade, que combinem a habilidade de traduzir questões complexas de forma acessível com uma visão crítica e detalhada. Embora existam muitos jornalistas locais com forte identidade política, combinar habilidades matemáticas, financeiras e econômicas com uma visão política aguçada é o buscado ouro. Esse diferencial os colocaria à frente dos demais e os torna protagonistas em programas jornalísticos de rádios, com capacidade de dominar debates e influenciar discussões. Talvez, para enriquecer ainda mais essas mesas redondas, a presença de um analista do mercado financeiro seja um passo necessário para uma compreensão mais completa e técnica dos temas abordados.
Vídeo sobre o quartil mais perspicaz desta amostra de ouvintes:
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